Para além da sua actividade docente e científica, destaca-se pelo papel activo na curadoria de importantes espaços verdes, como o Jardim Botânico de Lisboa, o Jardim Botânico Tropical e o Jardim Botânico da Ajuda, este último sob sua coordenação desde 2019. É ainda cofundadora da Associação Portuguesa de Jardins Históricos.
A propósito da ligação entre a universidade e o mundo profissional, e em particular da importância dos estágios na formação de futuros arquitectos paisagistas, o Horto do Campo Grande conversou com a Professora Ana Luísa Soares sobre a relevância destas experiências, os benefícios das parcerias entre instituições de ensino e empresas, e o impacto que estas vivências podem ter no percurso dos estudantes.
Qual a importância que atribui à realização deste tipo de estágios para a formação de um futuro profissional?
A realização de estágios em empresas da área da arquitectura paisagista, como o Horto do Campo Grande, é de extrema importância para a formação de um futuro profissional. Estes estágios permitem uma integração essencial entre a teoria aprendida na universidade e a prática aplicada no terreno, consolidando competências técnicas e aprofundando a compreensão da realidade profissional. O contacto directo com projectos reais e espaços verdes em fase de construção ou manutenção oferece ao estagiário uma visão concreta dos desafios e exigências do sector, desde o projecto até à execução da obra.
A experiência de campo, que inclui tarefas como medições, orçamentos, leitura de peças técnicas (documentos escritos e desenhados) e acompanhamento de cronogramas, complementa a formação académica e permite ao estudante desenvolver também competências interpessoais, como a comunicação com equipas, fornecedores e clientes, bem como a capacidade de adaptação e resolução de problemas. Um estágio no Horto do Campo Grande representa, assim, uma oportunidade completa de aprendizagem e crescimento, aproximando o estudante do seu futuro como arquitecto paisagista.

Como vê a colaboração entre a universidade e as empresas, em particular entre o ISA e o Horto do Campo Grande? Que benefícios destaca deste tipo de parcerias?
Esta colaboração, através de estágios entre a universidade e as empresas é muito importante ao longo do curso, tanto na licenciatura como no mestrado, pois permite um enriquecimento dos conhecimentos adquiridos na faculdade com a prática profissional. No caso do Horto do Campo Grande, ao combinar projecto, execução de obra e viveiro de plantas, estes estágios oferecem uma visão integrada de todas as fases de um projecto de arquitectura paisagista, o que é muito enriquecedor para a formação de um profissional.
Trata-se de uma oportunidade que complementa a formação académica, prepara o estudante para os desafios do mercado e contribui para a construção de uma identidade profissional sólida em Arquitectura Paisagista.
Na sua perspectiva, qual o impacto de um estágio nos alunos – tanto no enriquecimento do currículo como na aplicação prática dos conhecimentos adquiridos na faculdade? E para as próprias entidades que os acolhem, que vantagens podem retirar da presença destes jovens?
Um estágio representa uma etapa fundamental na formação de um estudante de arquitectura paisagista, com impacto claro no enriquecimento do currículo e na aplicação prática dos conhecimentos adquiridos ao longo da licenciatura ou mestrado. Durante o estágio, os alunos vivenciam o quotidiano profissional, desenvolvendo uma compreensão concreta das exigências do mercado de trabalho. Esta experiência prática permite aplicar de forma crítica e contextualizada os conteúdos teóricos estudados na faculdade, como o projecto em arquitectura paisagista, o uso de espécies vegetais adequadas ou a leitura de peças desenhadas e escritas.
Além disso, o estágio permite desenvolver competências transversais, como o trabalho em equipa, a gestão de tempo e a capacidade de adaptação a diferentes situações e desafios em obra. No que diz respeito ao currículo, valoriza claramente o perfil do estudante, demonstrando proactividade, sentido de responsabilidade e contacto com o mundo real. Pode ainda funcionar como porta de entrada para oportunidades futuras, através do estabelecimento de contactos profissionais e do reconhecimento por parte da entidade de acolhimento.
Para as entidades que acolhem estagiários, esta colaboração representa igualmente uma mais-valia. Para além de contribuírem para a formação de novos profissionais, beneficiam da energia, criatividade e actualidade dos conhecimentos que os estudantes trazem consigo. Muitas vezes, os estagiários introduzem novas abordagens, familiaridade com ferramentas digitais recentes ou perspectivas que complementam as práticas já consolidadas. O estágio funciona também como um período de observação e formação, permitindo identificar talentos promissores que, no futuro, poderão vir a integrar a equipa de forma permanente. É, portanto, uma troca valiosa entre gerações, saberes e experiências.
Há alguma mensagem que gostaria de deixar ao Horto do Campo Grande e/ou aos alunos que estão a estagiar neste momento ou que venham a estagiar no futuro?
Gostaria de deixar uma mensagem de apreço e incentivo, tanto ao Horto do Campo Grande como aos alunos que actualmente estão a estagiar ou que venham a fazê-lo no futuro.
Ao Horto do Campo Grande, um sincero agradecimento pelo papel que tem desempenhado na formação de jovens profissionais. A disponibilidade para acolher estagiários, partilhar conhecimento técnico e permitir a vivência do dia-a-dia da profissão é de enorme valor. Está a contribuir directamente para o crescimento da Arquitectura Paisagista em Portugal, formando profissionais mais preparados, conscientes e ligados à realidade do sector.
Aos estagiários, aproveitem ao máximo esta oportunidade. Esta fase é uma ponte entre a escola e o mundo profissional, onde o conhecimento ganha forma, utilidade e profundidade. Cada tarefa, por mais simples que pareça, é uma oportunidade de aprendizagem. Cultivem o respeito pelo saber prático e técnico dos colegas mais experientes, mas também confiem na vossa formação e na visão que começam a construir como futuros arquitectos paisagistas.
Um estágio é mais do que um requisito curricular – é um momento de crescimento pessoal e profissional. Que o vosso entusiasmo, dedicação e curiosidade vos acompanhe ao longo de toda a carreira.
E a Ana Luísa, também teve, em algum momento do seu percurso, experiências semelhantes durante a sua formação? De que forma é que essas vivências contribuíram para o seu caminho profissional?
Sim, tive a oportunidade de realizar um estágio muito marcante logo após terminar o meu curso em arquitectura paisagista, no jardim de Powis Castle do National Trust, no Reino Unido. Esta experiência foi extremamente enriquecedora e teve um impacto profundo no meu percurso profissional. Durante o estágio, participei em diversas tarefas práticas de jardinagem, desde a manutenção diária até à execução de trabalhos mais especializados, o que me permitiu consolidar muitos dos conhecimentos adquiridos ao longo da formação académica.
Para além disso, tive também a possibilidade de colaborar na elaboração de planos de plantação, o que foi uma excelente forma de aplicar, em contexto real, os princípios de composição vegetal, selecção de espécies e organização espacial. Estar inserida num jardim histórico com uma equipa experiente e dedicada permitiu-me aprender não só técnicas, mas também desenvolver uma sensibilidade estética e um respeito mais profundo pela história e identidade das paisagens culturais.
Esta vivência no estrangeiro, num contexto profissional exigente e culturalmente distinto, ajudou-me a crescer enquanto profissional e enquanto pessoa, abrindo horizontes e reforçando a certeza de que tinha escolhido a área certa. Sem dúvida, foi um momento decisivo no meu percurso e uma base sólida para tudo o que desenvolvi posteriormente na minha carreira.
© Companhia das Cores para Horto do Campo Grande