Depois de anos a limitarmo-nos a espaços urbanos, às grandes cidades e a ecrãs tecnológicos, fomos, inevitavelmente, perdendo a ligação inata que nos une à natureza. Hoje em dia, conscientes dos benefícios que o mundo natural nos traz, procuramos recuperar a relação esquecida. Trazer a natureza para dentro dos ambientes urbanos é uma das soluções possível graças ao design biofílico. Um conceito amplo em que se entende que restabelecer uma relação com a natureza é promover a interacção, com benefícios recíprocos.
Todo o ser humano tem uma necessidade fundamental de se conectar com a natureza. Já se perguntou porque é que gostamos de sentir o sol na nossa pele? Porque é que temos uma sensação única de serenidade quando contemplamos o mar? Porque é que nos sentimos renovados quando caminhamos num jardim ou numa floresta?
A ciência explica-nos: é a energia da natureza. A natureza alivia o stress, ajuda as pessoas a pensar com mais clareza e de forma positiva, suscita a criatividade e promove o bem-estar.
Em harmonia com a natureza
E se durante anos nos fomos distanciando da natureza e da vida ao ar livre, hoje vemos que há uma grande necessidade de nos voltarmos a conectar com o mundo natural. No entanto, o estilo de vida de muitos de nós, não nos deixa tempo suficiente para desfrutarmos da natureza. Então como podemos trazê-la para dentro das nossas casas ou do local de trabalho? A resposta está no design biofílico, através do qual arquitectos e designers de interiores incorporam elementos do mundo natural em ambientes construídos, transformando-os em lugares inspiradores e revigorantes.
Curiosidade
Traduzido literalmente do grego antigo, o termo biofilia significa
“o amor pela vida e por tudo o que está vivo”.
Incluir elementos naturais aproxima-nos da Natureza
A introdução de plantas nos ambientes, para além da beleza natural que proporcionam, criam uma ligação directa com a natureza, purificam o ar e promovem a calma e a concentração. Mas o design biofílico pode também ser conseguido com recurso a outros elementos da natureza, como a água. Ver, ouvir e tocar na água invoca uma sensação de tranquilidade ou vitalidade. Tectos altos promovem fluxos de ar, transmitindo a sensação de se estar no exterior. Espaços que replicam a ecologia e geologia local, através do recurso à madeira ou à pedra, ganham beleza e autenticidade. Outros estímulos sensoriais, como a simulação de sons ou aromas da natureza, originam ambientes frescos, vivos e revigorantes.
Objectivos e Vantagens do Design Biofílico
O interesse crescente pelo design biofílico não se deve apenas à necessidade instintiva de os seres humanos se ligarem à natureza. A biofilia – design biofílico – promove a interacção entre as pessoas e a natureza com benefícios recíprocos e manifesta-se em soluções em que a natureza assume múltiplas formas e a sua aplicação deve ter um propósito no espaço e um significado para quem o vai vivenciar. Pode inspirar através da beleza, mas também pode induzir uma sensação de calma, felicidade ou segurança, resultando no aumento dos níveis de produtividade, por exemplo, num escritório, e de consumo numa loja.
Considerado por muitos ainda um luxo, a verdade é que deve ser visto como um investimento. Estudos científicos revelam e quantificam inúmeros benefícios para a saúde física e mental, com impactos muito positivos na sociedade e na economia.
• Aumenta a capacidade cognitiva (1) e, quando incorporado nas escolas, pode melhorar a aprendizagem entre 20 e 25% (2).
• Em hospitais com design biofílico o tempo de recuperação dos doentes diminui 8,5% (3) e a toma de medicação para a dor é reduzida em 22% (4).
• Nos locais de trabalho a produtividade dos colaboradores melhora 8%. (5)
• Em ruas com vegetação, tendemos a gastar 25% mais (6) e, em lojas com biofilia, as vendas podem aumentar até 40% (7)
Apesar de mais habitual, a aplicação do conceito não é exclusiva dos interiores, já que podemos ter edifícios, bairros ou até cidades inteiras que integram a presença do conceito biofílico.
O Design Biofílico pelo Mundo
Casa Atibaia, São Paulo
Arquitetos: Charlotte Taylor e Nicholas Préaud
Localizada no rio Atibaia é uma homenagem ao modernismo brasileiro e um exemplo máximo de design biofílico. A relação do interior da casa com a floresta e toda a envolvente,e inspira a sensação de se estar a viver ao ar livre. Além das fachadas integrais em vidro, toda a estrutura é construída em torno de rochas pré-existentes, que ocupam também o interior de forma funcional: algumas áreas da casa são esculpidas nessas formas, enquanto as rochas mais pequenas actuam como elementos de mobiliário.
The Falling Water House, Pittsburgh
Arquitecto: Frank Lloyd Wright
The Falling Water House construída sobre uma cascata, usando arenito de origem local, funde-se com seu ambiente natural. Muito antes do conceito ser criado, Wright construiu um dos principais exemplos de design biofílico da actualidade.
Edifício Bosco Verticale, Milão
Arquitectos: Boeri Studio
Este edifício não passa despercebido na cidade de Milão e não é só devido à sua altura. É o primeiro exemplo de floresta vertical, um conceito arquitectónico que substitui os materiais tradicionais nas superfícies por uma camada de vegetação, aumentando a biodiversidade e promovendo a formação de um ecossistema urbano, capaz de ser habitado por pássaros e insectos. O edifício é composto por duas torres que abrigam 480 árvores de porte grande e médio e outras 300 de pequeno porte, 11.000 plantas perenes e rasteiras e ainda 5.000 arbustos.
Château de Vaux-le-Vicomte, França
O Château de Vaux-le-Vicomte é um castelo francês barroco do século XVII (1658 – 1661), localizado em Maincy, perto de Melun, a 50 km a sudeste de Paris, construído pelo superintendente de finanças de Luís XIV, Nicolas Fouquet.
Os jardins do imponente Château de Vaux-le-Vicomte são valorizados não só pelas vistas que oferece do castelo como pelos terraços com canteiros predominantemente horizontais. A sul do castelo, os jardins que o cercam são os mais notáveis pelas dimensões e o estilo refinado na mais pura tradição de jardins franceses com fontes, estátuas e caminhos cortados com giz. Uma obra inspiradora e um dos maiores exemplos através do qual o design biofílico se tem vindo a destacar ao longo do tempo.
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Foto de abertura: Casa Atibaia, São Paulo / Charlotte Taylor e Nicholas Préaud © Charlotte Taylor
(1) – Kellert, S.F., J.H. Heerwagen, & M.L. Mador Eds. (2008). Biophilic Design: The Theory, Science & Practice of Bringing Buildings to Life. Hoboken, NJ: John Wiley & Sons.
van den Berg, A.E., T. Hartig, & H. Staats (2007). Preference for Nature in Urbanized Societies: Stress, Restoration, and the Pursuit of Sustainability. Journal of Social Issues, 63(1), 79-96.
(2) – Oliver Heath Design Ltd. (2019, June 25). Biophilic Design – connecting with nature to improve health & well being. Oliver Heath. https://www.oliverheath.com/biophilic-design-connecting- nature-improve-health-well
(3) – Oliver Heath Design Ltd. (2019, June 25). Biophilic Design – connecting with nature to improve health & well being. Oliver Heath. https://www.oliverheath.com/biophilic-design-connecting- nature-improve-health-well
(4) – Browning, W. D., Kallianpurkar, N., Ryan, C. O., Labruto, L., Watson, S., & Knop, T. (2012). The economics of Biophilia.
(5) – Ekienabor, E. E. (2016). Impact of job stress on employees’ productivity and commitment. International journal for research in business, management and accounting, 2(5), 124-133.
(6) – Oliver Heath Design Ltd. (2019, June 25). Biophilic Design – connecting with nature to improve health & well being. Oliver Heath. https://www.oliverheath.com/biophilic-design-connecting- nature-improve-health-well/
Newman, P., Beatley, T., & Boyer, H. (2017). Resilient cities: Overcoming fossil fuel dependence. Island Press.
(7) – Soderlund, J., & Newman, P. (2015). Biophilic architecture: a review of the rationale and outcomes. AIMS environmental science, 2(4), 950-969.
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