Palácio de Palhavã, memórias senhoriais

24 Maio 2021

Palácio de Palhavã, memórias senhoriais

O Palácio de Palhavã encerra em si toda a grandeza arquitectónica e aura artística de uma imponente mansão senhorial do século XVII. As suas paredes perpetuam histórias e, em cada recanto, sente-se o segredar das muitas influências que, ao longo do tempo, se traduziram no enriquecimento do seu legado artístico. O palácio é actualmente a residência oficial do Embaixador de Espanha em Portugal.


Breve enquadramento histórico

A construção do Palácio de Palhavã, na quinta com o mesmo nome localizada na freguesia de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa, data de 1660, por ordem de 2.º Conde de Sarzedas, D. Luís Lobo da Silveira. O palácio viria assim a erguer-se numa zona rural próxima do centro histórico, na altura conhecida por sítio da Palhavã, e seria a residência da família Sarzedas durante largos anos. O filho primogénito, D. Rodrigo da Silveira, foi o grande impulsionador para o acabamento do palácio, em particular o altivo portal nobre no qual era possível identificar o brasão de armas dos Sarzedas.

Até 1918, ano em que o palácio é adquirido pelo Governo Espanhol para residência oficial do Embaixador Espanhol, o Palácio da Palhavã foi palco de ocupações sucessivas, maioritariamente por famílias nobres, de onde se destaca, posteriormente aos Sarzedas (1668-1747), os “Meninos da Palhavã” (1747-1760 / 1778-1801) e os Condes de Azambuja (a partir de 1860). Subjacente a cada passagem pelo palácio está um misto de influências e foram muitas as mudanças no seu recheio, nomeadamente obras de restauro, que se fizeram sentir. Mas nada alterou a sua grandiosidade e simbolismo e, hoje, este palácio e respectivos jardins continuam a ser sinónimo de prestígio e encanto.

Palácio de Palhavã, memórias senhoriais
Palácio de Palhavã, memórias senhoriais
Palácio de Palhavã, memórias senhoriais

Principais períodos de ocupação do palácio

Tendo a 4.ª Condessa de Sarzedas falecido em 1747 sem descendência directa, a Quinta de Palhavã e respectivos bens da Casa de Sarzedas são herdados por D. Francisco Xavier de Menezes, 6.º Conde da Ericeira e 2.º Marquês do Louriçal, casado com a filha do 2.º Conde de Sardezas. Neste mesmo ano, a Quinta de Palhavã é arrendada para se tornar a residência dos três filhos ilegítimos de D. João V – D. António, D. Gaspar e D. José –, que ficaram conhecidos pelos “Meninos da Palhavã”. Este período de ocupação contempla dois momentos. O primeiro, até 1760, altura em que os meninos são desterrados para o Buçaco por ordem do Marquês de Pombal, e um segundo que marca o seu regresso, entre 1778 e 1801.

Em 1833, durante as lutas liberais, a Casa sofre um violentíssimo atentado que a deixa bastante danificada. A situação precária da propriedade mantém-se até 1860, ano em que o 3.º Conde de Azambuja adquire a quinta e respectivo palácio por ocasião do seu casamento, e inicia um extenso plano de obras de melhoramento e de restauro da responsabilidade de Possidónio da Silva, arquitecto da Casa Real. A remodelação de Palhavã deve ser considerada como uma intervenção de grande escala que beneficiou todas as divisões e aposentos, através da substituição dos interiores e do bom gosto e riqueza dos materiais utilizados, dando lugar a uma linguagem artística que se mantém até hoje, sem alterações relevantes.

Foi também neste período de recuperação da Palhavã que o brasão de armas, ainda hoje visível, foi colocado no topo do portal nobre que dá acesso ao pátio principal da residência. No verso do brasão é possível ver-se a letra A, da família Azambuja.

Palhavã foi reconhecido, na época dos Azambuja, como um dos palcos mais requintados da sociedade lisboeta e onde foram oferecidos alguns dos bailes e festas mais elogiados.

Neste majestoso palácio, onde nasceram os onze filhos dos condes, viria a falecer, em 1914, o Conde de Azambuja, acontecimento que marcava o fim de uma época.

Em 1918, Francisco de Almeida Grandella, influente homem de negócios, compra a quinta e o palácio aos herdeiros do Conde de Azambuja. Entretanto, surge o interesse do Governo Espanhol em adquirir uma residência digna para ocupação diplomática e a escolha recai no Palácio de Palhavã. Francisco de Almeida Grandella acede em vender a propriedade, embora já com a excisão da maior parte da cerca, onde viria a ser construído o Bairro Azul nos anos trinta do século XX.

O ano de 1936 assinalou a maior obra de remodelação do palácio depois da aquisição do mesmo pelo Estado Espanhol, tendo sido o arquitecto Pedro Muguruza Otaño o responsável pelo projecto.

Mais tarde, com os actos de vandalismo de 1975, o palácio volta, inevitavelmente, a ser alvo de novos restauros. Aquando da primeira visita de Estado a Portugal do Rei D. Juan Carlos I e da Rainha D. Sofia, em 1978, já o Palácio de Palhavã havia recuperado o esplendor e opulência que sempre o caracterizaram. Actualmente, todas as suas salas partilham a mesma beleza, conforto e riqueza artística e são um convite a reviver a história de outros tempos.


Palácio de Palhavã, memórias senhoriais
Palácio de Palhavã, memórias senhoriais

Jardins históricos – a paisagem como testemunho

A intervenção dos arquitectos contratados para as diferentes obras de conservação da propriedade e o interesse que os vários ocupantes do palácio demonstravam pela arte da botânica estiveram bem presentes no enriquecimento que os majestosos espaços verdes do palácio testemunharam ao longo do tempo. A par da diversidade da vegetação, os grupos escultóricos, cuja localização não parece ter sido alterada com o decorrer dos séculos, são, sem dúvida, dos elementos que mais contribuíram para o enriquecimento artístico e valor recreativo destes espaços verdes típicos das grandes residências senhoriais. As fontes, com estátuas maioritariamente alusivas a figuras mitológicas, eram na sua grande parte encomendadas a escultores estrangeiros que se inspiravam nas influências artísticas da respectiva época. Ainda hoje estas fontes carregadas de simbolismo são verdadeiras obras de arte que conferem aos jardins do palácio uma aura de grandiosidade.

Palácio de Palhavã, memórias senhoriais

“O Palácio de Palhavã continua a servir os desígnios de representação,
ganhando no novo milénio consciência da sua identidade arquitectónica
e de uma memória histórica que remonta ao século XVII”

historiador de arte José de Monterroso Teixeira, in “O Palácio de Palhavã – Arquitectura e Representação”.



A normalização da mancha arbórea nos três níveis do jardim, devolveu-lhe um novo equilíbrio visual, permitiu uma maior incidência da luz natural e dar destaque ás árvores centenárias que emolduram o espaço – como Palmeiras, Jacarandás, Magnólias e um magnífico Castanheiro-da-Índia trazendo uma outra vida a este espaço.

O amplo e cuidado relvado, que serve muitas vezes para acolher festas e eventos da embaixada é ladeado por canteiros onde convivem harmoniosamente várias espécies de flores – roseiras e hortenses, plantas, como estrelícias e arbustos. Com um sistema de rega gota-a-gota e o cuidado diário e atento da equipa de jardineiros, todas as espécies florescem de forma saudável e harmoniosa, servindo para criar bonitos arranjos florais e decorativos que encontramos expostos nas magnificas salas do palácio.

Palácio de Palhavã, memórias senhoriais



Fonte de informação:

Álbum “O Palácio de Palhavã – Arquitectura e Representação”, com textos de José de Monterroso Teixeira e fotografia de Laura Castro Caldas e Paulo Cintra; editado pela Embaixada de Espanha, em 2008.
Passados mais de três séculos sobre a construção do Palácio de Palhavã, muito há para dizer sobre a sua identidade histórica e expressão arquitectónica e artística. A leitura deste álbum e a contemplação das imagens fotográficas que o ilustram são um convite irrecusável para conhecer de forma profunda e verosímil a sua evolução histórica e artística.